Crédito escasso e juros altos derrubam interesse por imóveis ao piso do pós‑pandemia

 

Crédito escasso e juros altos derrubam interesse por imóveis ao piso do pós‑pandemia

A pesquisa mais recente do Raio X FipeZAP, divulgada no segundo trimestre de 2025, revela que a intenção de compra de imóveis no Brasil caiu ao menor patamar desde 2019. Apenas 33% dos entrevistados afirmaram ter planos de adquirir uma propriedade nos próximos três meses, contra 35% no trimestre anterior.

O cenário é marcado por crédito escasso, juros elevados e menor capacidade de poupança da população, fatores que dificultam o acesso à moradia própria.

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Cenário econômico pressiona o mercado imobiliário

Imagem de uma pessoa calculando algo, utilizando uma calculadora. Ainda sobre a mesa, se encontram uma casa em miniatura e moedas. casa própria ITBI
Imagem: Andrey Popov / Shutterstock.com

O contexto atual do mercado é desafiador. A economista Paula Reis, do Grupo OLX, destaca que o saldo da poupança segue em queda, o que reduz os recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), responsável por financiar imóveis de médio e alto padrão. Embora os bancos estejam priorizando financiamentos para pessoas físicas, o volume de operações com recursos do SBPE vem diminuindo desde abril.

Juros em 15% travam crédito

Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 15% em junho. A expectativa do mercado é de manutenção desse patamar por um período prolongado, o que encarece tanto o crédito imobiliário quanto os financiamentos à construção. Isso limita a capacidade de compra das famílias e afasta novos entrantes do mercado.

Intenção de compra cai, mas investidores ganham espaço

Apesar do desânimo do consumidor médio, o levantamento revelou um dado curioso: a participação de investidores aumentou. Entre os que compraram imóveis nos últimos 12 meses, 43% o fizeram como investimento, contra 31% no trimestre anterior.

Além disso, as transações efetivadas classificadas como investimento subiram de 36% em março para 38% em junho. Isso indica que, mesmo em um cenário de juros altos, o setor ainda atrai quem busca oportunidades de negócio.

Rentabilidade ainda abaixo de aplicações financeiras

Embora a rentabilidade do aluguel e a valorização dos imóveis estejam inferiores a outras aplicações financeiras, investidores aproveitam oportunidades regionais. A variação entre cidades e bairros pode gerar negócios rentáveis, justificando o aumento do apetite por imóveis como forma de diversificação.

Descontos voltam ao radar

Outro aspecto observado na pesquisa foi a alta nas transações com desconto. Cerca de 66% das negociações tiveram redução no preço anunciado, contra a média histórica de 64%.

  • Desconto médio geral: 7%
  • Desconto médio em imóveis com redução anunciada: 10%

Esse movimento reflete um mercado pressionado, em que proprietários precisam flexibilizar valores para concretizar negócios.

Preços ainda vistos como altos

Mesmo com os descontos, 71% dos entrevistados classificam os preços atuais como “altos ou muito altos”. Entre compradores recentes, a percepção caiu para 60%, enquanto entre proprietários foi para 64%. Isso mostra que, apesar da queda no interesse, a visão de que o mercado continua caro permanece consolidada.

Expectativas de preços: curto e longo prazo

imóveis santander financiamento
Imagem: Photomix Company/Pexels

Quando questionados sobre a evolução dos preços nos próximos 12 meses, os entrevistados demonstraram cautela:

  • Média geral: alta nominal de 2,7%
  • Compradores recentes: expectativa de valorização de 7,9%
  • Proprietários: previsão de alta de 4,0%
  • Compradores potenciais: queda nominal de 0,2%

Visão de longo prazo

As expectativas para os próximos 10 anos revelam maior confiança:

  • 34% acreditam em alta acima da inflação
  • 28% esperam acompanhar a inflação
  • 13% projetam alta abaixo da inflação

Entre os compradores recentes, o otimismo é maior: 46% acreditam que os imóveis vão superar a inflação no período.

Perfil do respondente e metodologia

O levantamento Raio X FipeZAP é realizado trimestralmente com usuários ativos dos portais ZAP e Viva Real. No segundo trimestre de 2025, foram 1.219 entrevistados, distribuídos em três perfis:

  • Compradores recentes: adquiriram imóveis nos últimos 12 meses.
  • Compradores potenciais: planejam comprar nos próximos 3 meses.
  • Proprietários: possuem imóveis há mais de 12 meses.

A amostra mostrou predominância de renda domiciliar até R$ 10 mil (69%), idade média de 49 anos e maioria masculina (53%).

Perspectivas para o setor imobiliário

Com a Selic elevada e a poupança em retração, o financiamento imobiliário deve continuar pressionado nos próximos meses. A demanda de famílias tende a permanecer contida, mas o interesse de investidores pode sustentar parte das negociações, sobretudo em regiões com preços atrativos.

Ajuste do mercado em andamento

O crescimento de transações com desconto mostra que o mercado está em fase de ajuste de preços, o que pode abrir espaço para oportunidades pontuais. Contudo, sem uma queda expressiva nos juros, dificilmente haverá retomada consistente da intenção de compra no curto prazo.

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