Dólar perde força com sinais de corte de juros do Fed após discurso de Powell
Dólar cai frente ao real após discurso de Jerome Powell em Jackson Hole, com mercado apostando em corte de juros do Fed já em setembro.
O mercado de câmbio reagiu com força nesta sexta-feira (22) às declarações do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, durante o tradicional simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos. O dólar à vista caiu 1,02%, negociado a R$ 5,422 na venda, em meio às apostas crescentes de que o banco central norte-americano pode reduzir os juros já em setembro.
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No evento, Powell reconheceu os riscos crescentes para o mercado de trabalho, embora tenha mantido cautela ao falar sobre a inflação. A fala foi suficiente para aumentar as apostas em cortes de 0,25 ponto percentual na taxa básica, que agora somam 84% de probabilidade, segundo dados da LSEG.
“Embora o mercado de trabalho pareça estar em equilíbrio, trata-se de um equilíbrio curioso, resultante de uma desaceleração acentuada tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores. Essa situação incomum sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando”, disse Powell.
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Dólar em queda e reação imediata no mercado
A fala de Powell provocou uma queda global da moeda norte-americana. O índice do dólar (DXY), que mede o desempenho frente a uma cesta de seis divisas, recuava 0,98%, a 97,645 pontos.
Na B3, o contrato futuro de dólar para primeiro vencimento caiu 0,12%, cotado a R$ 5,479.
No dia anterior, a moeda havia fechado em leve alta de 0,08%, a R$ 5,4771, refletindo a cautela dos investidores antes do aguardado discurso.
Cotações atualizadas do dólar
Além disso, o Banco Central brasileiro anunciou leilão de até 35.000 contratos de swap cambial tradicional para rolagem do vencimento de 1º de setembro de 2025, medida que também ajuda a conter a volatilidade.
Expectativas para setembro
Os comentários de Powell reforçaram a perspectiva de que o Fed pode dar início a um ciclo de cortes de juros. Antes de sua fala, a probabilidade de redução em setembro era de 65%. Agora, os agentes financeiros já projetam chance de 84%.
Apesar do sinal positivo, Powell evitou assumir compromissos claros. Ele ressaltou que os dados econômicos que serão divulgados até a próxima reunião do Fed, em 16 e 17 de setembro, terão papel crucial na decisão.
Impacto para o Brasil
Especialistas afirmam que o ambiente internacional pode favorecer o Brasil. Com os juros domésticos ainda em patamar elevado, o diferencial de taxa de retorno segue atrativo para investidores estrangeiros.
“Para o Brasil, esse ambiente é positivo. Com a taxa de juros doméstica ainda em patamar elevado, a atratividade do diferencial para o investidor internacional aumenta. É claro que, no curto prazo, seguimos acompanhando o cenário político local, mas é inegável que a política monetária americana continua sendo um dos principais vetores para o fluxo de capital estrangeiro”, comentou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Contexto político e comercial
Enquanto o mercado acompanhava a repercussão de Powell, fatores locais foram deixados em segundo plano. Ainda assim, investidores monitoram o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, após a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros por Washington.
O governo brasileiro tenta negociar uma saída diplomática, mas analistas avaliam que o processo pode ser dificultado por recentes atritos políticos, incluindo decisões judiciais envolvendo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Pressões sobre Powell e cenário nos EUA
O discurso de Powell também deve alimentar novas pressões do ex-presidente Donald Trump, que insiste no corte imediato de juros e já chegou a pedir a renúncia do chair do Fed.
A economia norte-americana apresenta sinais mistos: o mercado de trabalho mostra desaceleração, enquanto indicadores como os preços ao produtor apontam maior pressão inflacionária. Essa combinação aumenta a dificuldade da autoridade monetária em definir o momento exato para flexibilizar a política monetária.
Segundo Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, o tom do discurso trouxe alívio para investidores que aguardavam sinais claros.
O que esperar para os próximos dias
No curto prazo, a volatilidade deve continuar elevada no câmbio, com investidores monitorando novos indicadores econômicos dos EUA, em especial dados de emprego e inflação.
Enquanto isso, no Brasil, o mercado mantém foco no andamento das negociações comerciais e no cenário político doméstico, embora a política monetária norte-americana siga sendo o principal fator de influência para a taxa de câmbio.
Com informações de: InfoMoney
