Senado aprova voto impresso em reforma eleitoral: entenda o impacto da decisão na corrida por 2026

 

Senado aprova voto impresso em reforma eleitoral: entenda o impacto da decisão na corrida por 2026

Em uma decisão que reacende um dos debates mais acalorados da política brasileira, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal aprovou, nesta quarta-feira, 20 de agosto de 2025, a inclusão do voto impresso na reforma do Código Eleitoral.

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A proposta, aprovada por 14 votos a 12, visa implementar um sistema em que as urnas eletrônicas imprimam um comprovante de voto, que será verificado pelo eleitor e depositado em uma urna lacrada, sem contato manual.

A emenda, apresentada pelo senador Esperidião Amin (PP-SC), foi incluída no Projeto de Lei Complementar (PLP) 112/2021, que reformula integralmente o Código Eleitoral brasileiro. A matéria ainda precisa passar pelo plenário do Senado e, se aprovada, voltará para a Câmara dos Deputados antes de ser sancionada.

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Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O que prevê o novo modelo de voto impresso

Como funcionaria o processo?

  • A urna eletrônica imprime automaticamente o voto após a confirmação na tela.
  • O eleitor verifica se o voto impresso corresponde ao voto eletrônico.
  • O papel é automaticamente depositado em uma urna lacrada.
  • Não há contato direto entre eleitor e comprovante, preservando o sigilo.
  • A implementação seria a partir da primeira eleição após a sanção do projeto.

A polêmica do voto impresso: argumentos a favor e contra

Argumentos a favor

  • Aumenta a confiança no sistema eleitoral, segundo defensores.
  • Permite auditoria física dos votos, considerada uma segunda camada de segurança.
  • Atende a uma parcela da população que questiona a lisura das eleições.

Argumentos contrários

  • Já foi considerado inconstitucional pelo STF em 2020 por ameaçar o sigilo do voto.
  • Eleva os custos logísticos e operacionais do processo eleitoral.
  • Pode gerar insegurança jurídica e abertura para contestações infundadas.
  • Não há fraudes comprovadas nas eleições eletrônicas brasileiras desde sua adoção em 1996.

Detalhes da votação na CCJ

A votação dividiu os senadores. A aprovação só foi possível graças à mobilização da oposição, com destaque para parlamentares como Sergio Moro (União-PR), Carlos Portinho (PL-RJ) e o próprio Esperidião Amin.

Por outro lado, senadores da base governista, como Marcelo Castro (MDB-PI) — relator do projeto —, Paulo Paim (PT-RS) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), manifestaram oposição à medida, destacando os riscos legais e operacionais. Castro alertou que o sistema eleitoral brasileiro é seguro e robusto, e citou as eleições municipais de 2024 como exemplo, em que mais de 400 mil candidatos participaram sem registro de fraudes.

Histórico da proposta de voto impresso no Brasil

AnoEvento
2002Testes em urnas com impressão do voto em algumas regiões
2015Aprovação da impressão de votos pelo Congresso
2020STF declara a proposta inconstitucional
2021Câmara dos Deputados rejeita PEC do voto impresso
2025CCJ do Senado aprova inclusão do voto impresso no novo Código Eleitoral

Mudanças no novo Código Eleitoral além do voto impresso

Com quase 900 artigos, o novo Código Eleitoral propõe uma ampla revisão das normas atuais. Entre os principais pontos, destacam-se:

Quarentena eleitoral

  • Redução de quatro para um ano do prazo de afastamento para militares, juízes e policiais que queiram disputar eleições.

Cotas de gênero

  • Mantida a cota mínima de 30% de candidaturas femininas.
  • Nova regra reserva 20% das vagas legislativas para mulheres.

Pesquisas eleitorais

  • Liberação da divulgação até a véspera da eleição.
  • Obrigação de informar o histórico de acertos do instituto de pesquisa.

Lei da Ficha Limpa

  • Inelegibilidade passa a valer por oito anos a partir da condenação, mesmo sem o cumprimento integral da pena.
  • Medida criticada por entidades de combate à corrupção por enfraquecer os mecanismos de controle.

Repercussão política

Reações da oposição

Senadores da oposição comemoraram a aprovação da proposta como uma vitória para a “transparência” eleitoral. Jorge Seif (PL-SC) declarou que a medida responde “ao clamor das ruas” e “traz paz ao processo eleitoral”.

Reações da base governista

Já parlamentares da base criticaram duramente a medida, classificando-a como retrógrada e desnecessária. Para Eduardo Braga (MDB-AM), “a proposta reabre feridas e desinforma a população”. O senador ainda alertou que o STF pode voltar a barrar a medida caso ela avance.

Possíveis impactos e próximos passos

Para entrar em vigor nas eleições de 2026, a reforma precisa ser sancionada até 3 de outubro de 2025. O texto ainda enfrentará debates acirrados no plenário do Senado e, posteriormente, na Câmara dos Deputados.

Possíveis obstáculos:

  • Risco de judicialização no STF.
  • Desafios logísticos no TSE para implementar a nova estrutura.
  • Resistência de setores técnicos da Justiça Eleitoral.
  • Pressão da sociedade civil e de organismos internacionais de observação eleitoral.

Custos e riscos operacionais

Pessoa votando em urna de papel
Imagem: New Africa / shutterstock.com

A adoção do voto impresso acarretaria novos custos para o TSE, como:

  • Impressoras acopladas às urnas eletrônicas.
  • Manutenção e reposição de equipamentos.
  • Logística para transporte, armazenamento e segurança das cédulas físicas.
  • Treinamento de mesários.

Estima-se que o gasto adicional para cada eleição possa chegar a centenas de milhões de reais.

O que diz o TSE?

O Tribunal Superior Eleitoral não se pronunciou oficialmente após a votação na CCJ, mas, em ocasiões anteriores, a corte defendeu a segurança do atual sistema. Auditorias feitas por entidades independentes e órgãos técnicos têm reiteradamente confirmado a confiabilidade das urnas eletrônicas.

Além disso, o TSE promove testes públicos de segurança, nos quais técnicos têm acesso controlado ao sistema para tentar encontrar vulnerabilidades. Nenhuma fraude foi registrada até hoje.

Debate público: polarização e transparência

A questão do voto impresso se insere em um ambiente político altamente polarizado. Parte da sociedade vê a medida como resposta a desconfianças — mesmo que infundadas — sobre a integridade do sistema eleitoral. Outra parcela enxerga na proposta uma tentativa de tumultuar o processo democrático.

Pontos centrais do debate:

  • Confiabilidade: há quem questione a urna, mesmo sem provas de fraudes.
  • Sigilo: o STF teme que o papel impresso, se não bem gerido, possa comprometer a confidencialidade do voto.
  • Custo-benefício: para muitos, os custos não compensam, já que não há evidência de falhas no sistema atual.

Conclusão: o futuro do voto impresso está em aberto

A aprovação do voto impresso na CCJ do Senado representa apenas um capítulo de uma novela legislativa que está longe de terminar.

Com debates técnicos, jurídicos e políticos ainda pela frente, o desfecho da proposta será decisivo não apenas para o processo eleitoral de 2026, mas também para a percepção da população sobre a integridade do voto no Brasil.

Resta saber se o Congresso manterá a proposta até o fim ou se o STF, como fez no passado, voltará a barrar sua implementação. Até lá, o eleitor brasileiro seguirá dividido entre a confiança nas urnas eletrônicas e o desejo de ter o papel como “prova” de seu voto.

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